segunda-feira, fevereiro 28, 2005

A Coisa Encolhida

As opiniões são, de facto, como os buracos do cu, ou seja, cada um tem o seu e faz dele o que melhor lhe aprouver. Ponto assente. Nada a dizer. Fim de história. O problema é quando a opinião se torna em ressaibiamento, o que quer dizer, como toda a gente sabe, que é o próprio buraco do cu que emite a opinião. Como também se sabe, os buracos do cu, especialmente se já lassos, produzem, essencialmente, merda. E a merda, mesmo se lhe puserem outros nomes, não deixa de o ser. Em democracia, cada um tem o direito inalienável de fazer a sua própria merda e passá-la como se fora um produto do intelecto. Ora, como se aprende muito cedo, quando se liga o cérebro ao intestino, os resultados não poderão deixar de ser... merdosos. Isto a propósito de um exercício de merdose absoluta em que se divertiram alguns excelsos membros da nossa querida teatra. Uma dúvida, porém se desvaneceu das nossas mentes: já sabemos porque é que da Companhia de Teatro do Chiado, não sai nada de jeito há tantos, tantos, tantos, tantos, tantos, tantos, tantos anos. Está esclarecida a questão: as pessoas da CTC passam todo o tempo livre a ler, pesquisar e criar evacuações intestinais sobre as outras pessoas que, coitadas, têm o azar de querer trabalhar e fazer alguma coisa interessante no teatro português. É certo que são peças que não têm a sorte de ter cartazes com senhoras bem apessoadas com pérolas e ar de coisa séria mas, de qualquer modo, sempre vão tentando. Coitados. A clarividência dos excelsos membros da CTC não consegue, por ora, abranger todas as pessoas, pobrezinhas, que vão fazendo do teatro a sua razão de ser e de criar. Mas, confesso-o, espero com frémito que chegue esse dia benfazejo... Ó glória, ó felicidade! Estaria assim cumprido o mundo segundo a CTC... Hã?

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Ocaso Épico

A minha nostalgia não tem fim. Será possível sentir nostalgia por uma época que nunca vivemos? Pois assim é. Ando com apetites infernais de regressar aos anos 70. Aquele período dourado entre 1977 e 1980. Quando tudo era dourado, decadente, possível, bolas de espelhos, cocaína em espelhos barrocos. Plumas e lantejoulas, enfim, o Studio 54. Mas também me parece que só teria piada se soubesse o que sei hoje. Toda a desbunda, sem nenhuma da inocência. Teria piada? Não gosto de limites nem de politicamente correctos a ditar-nos o que fazer. E tal coisa não existia em em 1977. Só a Grace Jones e a Donna Summer. E isso seria o suficiente para mim. Uma cena tipo sonho, com nuvens e fumos e aquela atmosfera rarefeita dos sonhos alcoólicos e afins. E nós lá no meio, em divertimento absoluto. Divertimento até doer, como ensino nas minhas aulas, até ao comportamento dissolvente. Sempre gostei dessa expressão. Não me importaria de me dissolver em 1977. Ao menos seria mais interessante do que estar neste meio termo baço que é este início de século. Acho que vou deixar que a loucura se instale definitivamente. Talvez torne tudo mais fácil...

Tenho andado a ouvir Fischerspooner furiosamente, o single novo: "Just let Go". Mal posso esperar por Abril. Odyssey, where art thou?

Over & out...

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

O Voyeur da Destruição Absoluta (Enquanto Beleza)

Tenho a capacidade de concentração de uma mosca doméstica. Talvez devido a isso, tudo à minha volta fica reduzido flashes: curtos, luminosos, esparsos, descarnados. Vivo de imagens de coisas que, muitas vezes, não consigo identificar. Sei que é assim, vivo assim. Isto utdo porque fui ver Sobre a Mesa a Faca, co entre os Pragas e o Cão Solteiro. Soube, desde o primeiro momento, que iria ficar com uma mão-cheia de imagens, de sons, de filamentos dispersos. Sei que a imagem do Carlos Alves com a cabeça de cavalo vai ficar durante muito tempo na minha memória. Foram os gestos, a pose, os movimentos, o fato verde e muitos, muitos anos de reflexos de livros de Angela Carter. Assim mesmo. Não sei explicar melhor que isto. Fez sentido. Fez luz. Não vou parar de pensar nisso. E na Sofia Ferrão, imóvel, com a cabeça de lobo, esfíngica, labiríntica, exposta, tudo no mundo a passar por ela, a passar nela. Nem a voz a seu lado servia para mais do que reforçar a sua presença. Assim mesmo. No meio das palavras, o que ressaltou foi o silêncio, os gestos, ou a falta deles, até à explosão final: som e fúria, loucura e descontrolo e, afinal, o melhor cenário é aquele que é para ser destruído. Ou não. E as Buffalo Daughters. Aquilo que se diz sobre nós próprios vale o que vale e não vale nada. As palavras são isso mesmo, belas, bonitas e, acima de tudo, disponíveis, coisitas que servem para nos dar uma forma e uma forma ao mundo e às sua formas e às suas coisas. Não penso que consigamos descrever-nos com palavras nossas. Nem com as dos outros. Uma peça de teatro não serve para nada, a relação que os do palco estabelecem com os do outro lado, do público, não existe. Actores? Quem são? O que são? Servem para quê? E nós? Percebo que o Pedro Penim nos venha dar o dinheiro da bilheteira. Só podia ser assim. São as regras do jogo que se estabelece entre... bem, aquela gente no suposto palco e as outras pessoas, estejam onde estiverem. Por falar em Pedro Penim, tinha saudades de o ver assim, maravilhoso, como só ele consegue. Pode dizer-se que ele está como quer e como está bem, homem d'um raio. Salvé, Penime, que os deuses e as musas Te conservem. Os jornais que se te desfazem no corpo são algo que se cumpre. Epifania, como ele próprio disse, a rir. Piada. E daí... São duas horas e meio de espectáculo, com mais informação do que aquela que poderíamos absorver. Não importa, cada um de nós, os outros, a publicolândia, tira dali o que lhe aprouver. E é bom de ver os Pragas a crescer, dez anos depois, a seguir a um Título que colocou a fasquia tão alta. Mas as surpresas não páram, e ainda bem que assim é. Talvez não haja já limites. Só espero que isso não lhes corte as asas. Não poderia. Como se disse, as pessoas são maravilhosas. Seja. Basta isso. Venha a Agatha Christie.

Será que os Fischerspooner sobrevivem ao segundo álbum? Odyssey. Mirwais. Abril. Tenho andado a ouvir o #1. Vão em frente, passem da imitação à criação, sei lá em direcção ao quê. Compras recentes: Client, Felix DaHousecat, Lcd Soundsystem, tudo o que mantenha as máquinas a funcionar, como deve ser. E os Motiv8, de regresso...

O Frederico Lourenço faz livros bem dispostos, como me disse o Penetrador Gótico, sensíveis e giros, mas não muito profundos. Mas eu gosto do tipo e dos livros dele. A língua portuguesa e´um instrumento que deve ser cuidado. Por aí.

Expressão maravilhosa: Criminosos emocionais. E há tantos por aí...

Jonathan Caouette e Tarnation: o som e a música e a exposição enquanto exorcismo. Dá para pensar. E aquelas canções! O mais estranho é como se transforma uma pessoa normal numa pessoa louca... É tão fácil. A linha é mesmo muito fina...

Sócrates em S. Bento. O futuro deixará de ser encolhido? Rock on...

O Segundo Imperativo

Tenho andado estranho. Não sei bem porquê. Será porque perdi mais alguma coisa da qual só agora me apercebo a importância? Mais uma. Pois é. É isso que fazemos, todos os dias, perder coisas que nos fazem falta. Já nem tem piada. Dia após dia. E está um tempo de merda. Assim mesmo. Já volto. Não dá para mais...