sexta-feira, abril 29, 2005

Palmyra

Tenho saudades de ter saudades de ti. Nada disso importa, claro. Não sei o que se passa ao meu redor. Não há equilíbrio. Nenhum. Estou a trabalhar em abismo profundo, sem nada. Sinto-me como um romancista bloqueado em frente a uma folha branca. É só desespero e suspensão. Obviamente.

terça-feira, abril 26, 2005

Alvíssaras

Alvíssaras, senhores, alvíssaras! O senhor marquês completa hoje 34 gloriosos anos, ao lado direito do Senhor. Há vários caminhos para o reyno dos Céus, sendo que o senhor marquês trilha o mais difícil, mas mais prazeroso. Sticks and stones, como se diz.

sexta-feira, abril 22, 2005

Extremis

Aquela coisa que és tu tarda em ser para mim menos do que uma miragem. São cores a mais.

Armada

Tenho céus azuis dentro da minha cabeça.

quinta-feira, abril 21, 2005

Exigis

Como sempre. Quero estar assim. Penso que não há mais nada que valha a pena. Olhos que vêm muito para além daquilo que eu gostaria que se pudesse ver. A raposa no inverno escondida dos olhares de quem apenas passa. Nada é mais do que aquilo que se consegue sentir num dado momento. A pele é apenas pele quando só o frémito dos teus dedos me faz sentir como se

U-Turn

O que é que todos nós queremos? Sexo com estrelas de televisão!

terça-feira, abril 19, 2005

Ouch...

Hoje não me parece possível...

segunda-feira, abril 18, 2005

O bafo cálido dos desejos/Archétipo

Perry Blake é uma criatura! Quem escreve aquelas palavras merece um lugar ao lado direito do Senhor! Seja o senhor quem... Reparem:

"I could kill a hundred times a day
just to find something that I would want to save
don't you know who owns the stars?
controls the sea?
when I stop to catch it all, it passes me.

we are not stars
we're nothing but descendants
of butlers and attendants
we are like cars
rusting in a graveyard with some forgotten saviours

I could host a funeral tonight
lift Her dress and kiss Her while she's still alive
she who kept a swallow in her mouth
just to make it think that it was flying south"

Não me interessa que possa parecer pretensioso. A pretensão é a água que lubrifica os carretos da inspiração. Estão a ver? Nem é difícil. Mas como soa bem, meus senhores, com soa bem e sabe bem pegar nas palavras e usá-las até perderem o seu sentido mais chão e voarem até aquele sítio onde são apenas simulacros. A palavra enquanto simulacro parece-me ser um muito bom ponto de partida para...

"... the fox in winter will sleep 'till spring in cold blue mountains/I don't dream anymore for there is a silence when two rivers meet." Opah...

Nestas efabulações leves como castas nuvens brancas e com tanta sustentação como um castelo em cima das ditas, esta parece-me ser a banda sonora ideal. Tudo nas proporções ideais: a frieza, a distância, a água benta, a pretensão, a árida beleza de um gume de metal, as referências em catadupa, oh, que doce tormento, que coisa! A nostalgia paralisante de um look que se torna inescapável e tão mortalmente bom... E é tão mais fácil não ter que fazer nada.

Nada, nada, nada, nada, nada...

Estou paralisado. Preso. Não tenho vida, apenas uma ameaça. Vã. Pisca-me o olho e sai a sorrir, inalcançável. Todos os começos do mundo já não me chegam.

Quero sentir a pele em chamas com um toque...

... alguém.

Movimento II

Quero uma cultura sem o esforço que a Cultura exige.

sexta-feira, abril 15, 2005

Movimento

Quero uma disciplina sem a disciplina da Disciplina.

quinta-feira, abril 14, 2005

A cidade enquanto espinha do demónio

Estamos os dois estiraçados em frente à grande janela envidraçada, no topo deste Pillip Johnson tão feio como todos os outros. Mais um dia.
Estamos no meio de uma demora que é uma perda de tempo tão grande que é quase uma obra de arte.
Olhamos para a cidade lá em baixo e sonhamos com esquemas para lhes rebentar as pequenas cabeças.
É difícil, sabem, deixar este mundo, desistir de tudo, quando sabemos que até somos iguais a toda a gente.
Mas o importante é perseverar.
Por toda a majestade de uma paisagem citadina.
Por todos os dolorosos dias das nossas vidas cinzentas.
Por todos os sonhos de betão das nossas mentes desocupadas.
Por toda a alegria que passa pelos nossos olhos nublados.
E pelo frio inverno que sangra nos pilares desta Babilónia pintada de fresco.
Somos rapazes de pedra a observar esta terra que se arrasta aos nossos pés.
Os anéis de carne a as torres de aço. As garras do constrangimento.
As grutas fumegantes e os rochedos e a areia sem fim.
É tudo tão difícil, percebem?

quarta-feira, abril 13, 2005

Vergara

Sentado no meu Philip Johnson, a ver passar todos os dias dolorosos das nossas vidas e a pensar que, talvez, a morte possa ser, de facto, uma forma de Arte.

É difícil olhar para o futuro com os olhos marejados de lágrimas...

Um furúnculo francês.

A paisagem da cidade, em pleno e fugaz dourado, que se derrete ante os nossos olhos.

Por vezes, um sorriso é uma manifestação de um incómodo interior que faz escorrer a tinta dos dias.

Afundo-me num mar de

rux (o direito dos mais fortes à ignomínia)

Ocorre-me o pensamento como uma nova moral, um modo de viver a vida e encarar o dia-a-dia a partir de um plano elevado em relação ao resto do mundo, o dos outros, dos mortais, das pessoas básicas. Nós, os iluminados, poderemos olhar para o mundo a partir das nossas poltronas de cabedal inglês do século XVIII, enquanto beberricamos o nosso champagne de flutes de cristal veneziano. Estamos aqui, e podemos. Ponto final. O mundo é belo e é nosso, o nosso pátio privado, a nossa Criação. Amen. As responsabilidades, essas, virão mais tarde. Afinal, Deus é uma criatura muito ocupada, distraída mesmo, lá com as suas coisas. É o que faremos. Cada um por si, e nós com um sorriso mortífero. Dai-lhes corda, que eles se enforcarão...

terça-feira, abril 12, 2005

Nó cego

Derrisório e complacente, arrasto-me sem glória pelas cinzas destes dias pardos...

segunda-feira, abril 11, 2005

Estamos na sarjeta, mas a olhar para as estrelas...

- Consegues sentir o meu coração a bater?
- Como sempre.
- Isso significa que ainda há vida em mim, não é?
- Exactamente.
- Por vezes sinto que não a mereço...
- Porque não?
- Porque não sei o que fazer com ela.
- Tudo o que quiseres.
- Se fosse assim tão simples...
- É assim tão simples, basta quereres.
- Gostaria de poder acreditar nisso.
- E eu gostaria que acreditasses, por mim, por ti, por nós...
- Eu sei...
- Já falamos disto tantas vezes. Não sei o que te possa dizer mais.
- Não há mais nada a dizer.
- Pois não.
- Desculpa.
- Estou aqui contigo, não estou?
- Não me vais facilitar a vida, pois não?
- Não, não vou. Quero que o teu coração se despedace. Quero que chores.
- Nunca irás compreender.
- Não quero compreender.
- Não sou uma má pessoa.
- Não quero saber. Deves-me isso.
- Vai ser muito mau.
- Sabes que sim.Vais acabar comigo.
- Lamento, a sério.
- Isso não quer dizer nada, já usaste essas palavras vezes demais.
- Nunca te fiz promessas.
- Não faças isso, agora não, por favor.
- Ias dando cabo da minha vida.
- Mas não consegui, pois não? Não te preocupes. Até nisso falhei.
- Não quero que te vás embora.
- Eu também não quero ir embora, mas não me deixas outra alternativa.
- Sabes que tudo o que...
- Porque não olhas para mim?
- Porque não é essa a expressão que quero guardar do teu rosto.
- Já é tarde demais para isso, não te parece?
- Abraça-me.

Sines, Setembro 1998

sexta-feira, abril 08, 2005

Oxygen

Recebi-a a meio da noite, uma noite difícil como são todas as noites que se seguem a uma perda. Sorri e chorei. Porque é bom saber que há quem pense em nós e queira o nosso bem, mesmo que não possa ser da maneira que nós gostaríamos. Mas quando há aquela cumplicidade, aquele saber quase instintivo do que dizer e do que fazer perante o outro, em qualquer circunstância, tudo se torna possível. Sei disso. E foi essa constatação que me fez mais forte.
Já aqui disse que é muito bom estar certo sobre alguém. E as provas continuam a chegar.

Amen.

EXOTICA/UTOPIA

É uma daquelas noites com o fim do mundo à distância de umas quantas paragens de autocarro e toda essa história, na festa de aniversário de alguém, em Porto Covo. Há uma rapariga que tem o vestido puxado para cima e as cuecas à volta dos joelhos e que está a simular uma masturbação agressiva com a perna de uma cadeira partida. Um puto louro e bonito, de cabelo curto, está inconsciente num sofá. O resto de nós está a olhar para a lua que, esta noite, está em eclipse e acompanhada pela aparição de um cometa de cujo nome não me recordo.
De momento, a lua está vermelha e tem um aspecto curtido, como se fosse uma bola de bilhar a rolar para dentro de uma bolsa de estrelas. Mas em termos astrológicos e mitológicos, isto significa que, aparentemente, deve estar para acontecer alguma desgraça de proporções bíblicas. Li algures que o rei Herodes morreu depois de um prodígio destes... Em 1974, no Camboja, 16 pessoas foram mortas quando soldados em Phnom Phen dispararam contra o que eles pensaram ser um macaco a comer a lua... E no Japão antigo, o povo costumava deitar-se no chão, com a face virada para o céu, uivando para tentar afastar os supostos efeitos maléficos do eclipse lunar.
Hei, mas nós estamos num mundo pseudo-virtual e alegremente estúpido e supersticioso, não estamos? Século 21, costa do Alentejo, tentamos o nosso melhor ao som de qualquer coisa que já existe há muito tempo. Qual é a novidade? De qualquer modo, a rapariga ruiva está muito bela no seu vestido bondage de Vivienne Westwood, sem o mínimo ar de estar passada e olha para cima, algures. Alguém põe uma música chamada "Little Fluffy Clouds" a tocar. Os The Orb assentam na perfeição naquela atmosfera levemente lunática. Os céus tornaram-se uma estufa e as pessoas não estão muito longe disso.
Enquanto estou a ouvir a música, estou espantado com o que se pode fazer da nossa vida se realmente estivermos dispostos a isso. Penso no que podes estar a fazer neste momento. Provavelmente também estás a olhar para o eclipse, só que de algum lugar perdido no meio de lado nenhum, onde estás a foder alguém que não te interessa um caralho, só porque isso fica bem nas conversas com os amigos. Mesmo depois do casamento. Música ambiente e clubes techno no outro lado do mundo, quem poderia ter previsto uma cena destas há uns anos atrás? E eu a pensar em ti. Ainda e sempre.
Depois de demasiado álcool e substâncias ilegais, alguém me pede para dizer umas palavras sobre o amor da minha vida, ou melhor, sobre alguém que tivesse possuído a minha alma, o tópico de conversa a ser discutido no momento. O primeiro pensamento que se torna carne e vive é o de que a festa acabou, de todas as maneiras que consigo lembrar-me.
O meu amor por aquela besta maravilhosa não perdeu a sua viabilidade, é demasiado idiossincrático e abrangente e infernal para isso. A nossa relação sempre foi um sistema de tortura ligado a um sinal extraterrestre. Não, apenas acontece que o ambiente do qual ela nasceu está tão perto de se tornar um ritual, apenas e só isso, que está em vias de se transformar em algo sem qualquer significado. Uma experiência virtual.
A busca daquele pico último de sentimento que, na realidade, se vai tornando cada vez mais utópico todas as vezes que se inicia, é algo como ir a uma discoteca, despir a personalidade do dia-a-dia, dizer disparates, dançar como um epiléptico e depois relaxar madrugada dentro. É como atingir o nível mais baixo da existência. E ainda ficamos contentes. Pelo menos para mim é assim. O que pode haver a seguir?
Gostaria de poder pensar que tudo isto seria uma função minha que está a ser suavemente levada até à saturação, mas não se trata de nada disso. Amor, paixão, enamoramento, loucura, qualquer que seja a merda que reverbere como um enorme e cada vez maior cérebro pulsante que domina tudo e todos de centro do inferno, como alguém disse, está conceptualmente morta, em termos práticos. Acho eu. Tudo o resto são postais do Dia dos Namorados e compras nos hipermercados aos Domingos.
Quero eu dizer, quantos tipos que pintam como Picasso se conseguem hoje encontrar? Estão a perceber? O amor é uma treta.
Conheço-te há tanto tempo que parece que não tive vida antes disso. Foi quase no fim de 1994, tinha eu 23 anos e ainda acreditava. Naquele dia 13 de Janeiro de 1995 vi-te a olhar para mim, fui falar contigo, embebedaste-te e partiste com o resto da turba. Depois, regressaste, conversámos, fomos consumir fumícios e ficamos juntos toda a noite. Fomos para Sines e levaste-me ao castelo. Subiste à muralha e gritaste "vão todos para o caralho", muito alto. A seguir, com um salto, aterraste à minha frente e beijaste-me, pela primeira vez. Era de noite e fazia frio.
Muito disto é apenas uma névoas fugaz na minha memória, mas tão viva no resto.
Quando me pediram para dizer algumas palavras sobre alguém que me possuiu a alma, disseram que não era necessário fazer uma retrospectiva pura e dura. Ainda bem, porque não me quero lembrar de muita coisa. Já não vale a pena. Em muitos aspectos, toda aquela cena parece ter-se transformado numa espécie de orgia drogada e alucinogénica da qual nós éramos as estrelas, uns verdadeiros alien superstars.
Tornámo-nos A COISA.
Vivemos A COISA.
E A COISA foi boa, pelo menos por uns tempos.
A COISA funcionou, alimentada por um sentimento de pertença e manteve-se unida por um silencioso cimento espiritual. Abriram-se novos horizontes e tudo era bom.
Todas as nossas noites juntos eram como a queda do Muro de Berlim, uma e outra vez, até ao colapso. Havia a sensação de que tudo era possível e as nossas aventuras reflectiam este sentimento de maravilha e deslumbramento.
Então A COISA tornou-se canibal.
Nós os dois sofremos uma espécie de overdose, ficámos loucos, caímos vítimas de tudo, tornámo-nos dependentes do nosso inferno, fomos roubados e maltratados. E a cada novo ano anunciámos um novo Verão do Amor. Doente, não é?

A verdade é sempre muito mais selvagem do que a nossa ficção privada.

quinta-feira, abril 07, 2005

Ho Humm

Um dia de sol, um Bentley descapotável, uma flute de Crystal rosa, um fato branco Valentino. Demasiado álcool, um corpo demasiadamente belo e jovem. Toda a beleza deve morrer. É a lei da vida. O olhar é duro, o sorriso sardónico, a faca afiada. E o sangue, esse...

Machina

Nunca me sinto tão cansado como quando me levanto da cama, todos os dias.

Requiem

O avô materno do senhor Marquês faleceu na segunda-feira, dia 4 de Abril de 2005. Tinha 84 anos.
O senhor Marquês lamenta-lhe a ausência e a falta de uma marca mais profunda na sua vida.

Pace.

segunda-feira, abril 04, 2005

Babilónia pintada de fresco

Uma certa vez, a grande Cadela Nocturna disse-me que estar os amigos era o mesmo que sentir uma sensação de aconchego semelhante a estar num casulo. Parece-me uma descrição apropriada para o que se sente. Ontem estive, de facto, num casulo quente e doce, numa daquelas situações em que, por qualquer razão divina, tudo parece estar no seu lugar. As pessoas, os espíritos, o local, a comida, o ambiente, enfim todos os ingredientes para uma noite retemperadora dos maus fluídos e pensamentos d'antão. Nesta época de coisas frias e impessoais, de relações fugidias e sentimentos de papel, é precioso poder sentir que se faz parte de algo que nos permite estar como somos, com muito menos máscaras do que no resto dos nossos dias. É saber que sim, que podemos ser fúteis, loucos, desiquilibrados, insuportáveis e todos esses estados afins, que não seremos julgados, pois do outro lado da barricada, com um copo de vinho argentino na mão, estão outros que tais, como nós. Por mais improváveis que possamos ser. Nada mais forte do que a improbalidade para unir as pessoas...
As coisas boas da vida são para ser gozadas sem pressas, com um certo estilo, uma certa sobranceria, uma displicência capaz de dar um sentido mais profundo às palavras, aos pensamentos, aos corpos e à sua linguagem. Assim mesmo, é com o cinismo inerente ao poder de ser dono de um segredo, que podemos verdadeiramente sentir que pertencemos a algo maior do que a própria existência do dia-a-dia banal e sem frutos. Os amigos, o álcool, a conversa, os bons locais, o saber dizer mal de tudo e de todos como forma de estabelecer uma ligação ente nós e eles, é um segredo divino, só revelado a alguns, poucos, de entre nós. Foi o que se passou? Não sei, mas é a criatura ruiva, em todo o seu fogo de artifício, a criatura jovem ainda educada e polida, mas já no bom caminho para a perdição. A boa, a nossa, a que deve ser. E é a criatura alva e pequena, grande e forte perante as forças de um infortúnio espúrio e vago, destituido de sentido e propósito. Firmes, orgulhosos, jovens, bem vestidos, bem postos, bem criados. É, comme il faut. Como não podia de ser. Como gostamos. O senhor Marquês sente-se privilegiado por poder desfrutar de tudo isto. E estragado para o mundo, pois tudo o resto parece tão aborrecido, tão desprovido de encanto...

I need to believe in something...

... dark clouds drift away to reveal the sunshine... (Space, Dark Clouds, 1996)

Se, ao menos, as nuvens negras não regressassem...

e.

"... Não me mintam, ouviram? Não me mintam!"

sexta-feira, abril 01, 2005

Demonologia

Matem os vossos ídolos. Matem aqueles de quem gostam. De uma forma ou de outra. Vejam-se livres das vossas famílias. Quebrem todo e qualquer laço com o mundo humano. Sejam monstros. Egoístas. Cruéis. Sem coração. Frios. Frios. Frios. Que se foda Deus e as Igrejas. Todas as religiões organizadas são uma perda de tempo. Marx, afinal, tinha razão. Comunguem com a natureza. Essa é a única religião. Nós e o mundo. O nosso mundo. As coisas que nos fazem felizes. Assim tão simples. Os prazeres e as emoções. Libertem os vossos demónios. Doce e cruel anarquia. Nada mais interessa a não ser a satisfação dos vossos desejos. O trabalho dá dignidade? Mas nem por sombras! A vagabundagem é a verdadeira arte. Ser vagabundo intencionalmente, com fervor. Tal como o grande Peter O'Toole. Dancem até cair. Fiquem loucos e percam todas as noções de Bem e de Mal. Como nas palavras de Madonna: "Aborrecem-me os conceitos de certo e errado". E ela sabe do que fala. O mundo é o vosso parque de diversões privado, aproveitem-no. Sejam jovens, devassos, irresponsáveis. O mundo não está à vossa espera e quando der por vocês já vai ser tarde. Bebam todo o Crystal cor-de-rosa que conseguirem, até vomitarem em cima uns dos outros e das roupas caras que estão a usar. E depois peguem no vosso Jaguar descapotável verde e desfaçam-no contra o novo Porsche do vosso melhor amigo. Façam como o Robbie Williams no vídeo de "Come Undone". Mas até às úlitmas consequências, sem a merda da moralzinha de pacotilha. A moral é a nova inquisição. Façam por a banir. A moral é merda. Sejam amorais. Se tiverem que morrer, façam-no com estilo. Jovens e deslumbrantes. Ouçam música bem alto, sob o efeito de todas as drogas conhecidas. Estejam com quem vos apeteçam. Esqueçam o amor. Dediquem-se à luxúria. Fodam até vos sairem os miolos. E então... comecem tudo outra vez! Até não restar mais nada de vocês e do mundo. Façam como o Bret Easton Ellis. Menos que Zero. Porque que raio não? E então, um dia, não há mais nada para fazer. Será nesse dia que terão atingido o vosso objectivo último: Fazer Tudo. Com ganas. Sem limites. Estarão mais próximos de Deus... Serão o vosso próprio Deus.

E o senhor Marquês, na alto da colina, vestido de branco, sorri, por entre os filtros de um Jeffrey Kimball às ordens de Ridley Scott, com banda sonora de Alexander Balanescu.

"... my work here is done..."

The Horror

Heart beats under. Heart of steel. Paint my face, tell a lie. The boyfriend. Someone's voice. I don't care. Animal boy thing. The world. Babble. As of now, dead. Heart of steel. Which do you prefer, a heart or a soft lotion? Love song. Good as it gets. Can´t believe it's true. It's all relative. Vanilla sky my ass. What are you, these days? Living? Almost? It's half past. Going nowhere fast. Someone. Somewhere. Summertime. I fail to remember. Too long ago. Too far away. Promised you a miracle. Beautiful things are beautiful things. Baby, please... if you have to kill me, do it as if you cared.

Enough.