quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Excelsior

Foi um daqueles momentos, quase sem se dar por eles. Sabia que ia beber algo bom, o que até não era muyto estranho para a companhia em questão e para o local em questão. E eis que para acompanhar o Canard à L'Orange surgiu um Quinta do Carmo. Bom vinho. Daqueles que se bebem com a convicção de se estar perante qualidade e não se pensa mais nisso. Muyto satisfatório. E veio então o decantador. Lá dentro um Termeão Pássaro Vermelho tratado com as devidas reverências. Todos os presentes sabiam que iria ser bom. Repito-me. Mas o que aconteceu foi que, de repente, aquelas três almas se viram entregues a uma celebração do melhor que este bravo Portugal vinícola pode oferecer. Pessoalmente, o que primeiro me despertou a atenção foi o perfume, o que mesmo não sendo uma novidade em vinhos da Bairrada, e muyto menos nos tintos de Manuel Campolargo, um produtor que parece privilegiar sempre a elegância em vez da força bruta, me deixou alerta. O que se seguiu foi o desfilar de um aroma, como direi, estreito, mas franco, todo ele delicadeza, de tal modo leve que a touriga proporciona um bouquet muito pouco usual para a casta. Quase que arrisco a dizer que, bem, feminino. E também a cor, não opaca, mas belíssima. O corpo não é super concentrado, mas tem estrutura mais do que suficiente. O final não se apresenta prolongadíssimo, mas continua absolutamente irresistível. Os taninos não são demolidores, mas apresentam-se para duradouros. Assim mesmo. Momentos destes fazem valer (quase) tudo o resto que temos que aguentar nessoutros momentos daquilo a que chamamos vida. Gosto de vinhos que possam ser discutidos, compreendidos. Gosto de momentos de prazer absoluto. Gosto de sentir que mereço ser tratado assim e que esta é uma opção para a existência. Só a felicidade conta, venha ela como vier. Posso dizer que sou feliz assim. Vinho e amigos, uma combinação que não pode ser batida. Até à próxima, de volta de uma de Três Marias que por aí andam...

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