Um sorriso que faíscava como o sol sobre o gelo ártico nasceu do rosto perfeito. Se o ar pudesse sangrar, aquele sorriso, semelhante a uma navalha, tê-lo-ia cortado tanto que, nesse momento, haveria um véu púrpura entre os dois. A voz escorre doces venenos: Você é uma cornucópia de coisas adoráveis. De um tronco escondido dentro do meu ser, despontaram subitamente flores luciferianas de um azul intenso: Nada me excita, excepto a sua excitação. E eis que cessaram os ventos quentes do frenesim coral. Entretecendo as suas grinaldas verbais, em prosa e verbo, de magnífica hera venenosa, a voz declara: Meu caro, se houver a possibilidade de nada ser feito, certamente que, com todo o vigor, nada será feito. Sorrisos. Haveria tanto para dizer do luxo ocioso. Silêncio. Um arrufar de tecidos caros sobre outros tecidos ainda mais caros. Pausa. Há algo de bizarro quando pensamos no nosso Criador, afinal ele é também o nosso Devorador. Touché! E compôs a sua máscara mais críptica, embora uma certa chispa no seu olhar sugerisse que ainda havia algo demoníaco latente na sua natureza. A minha sentença: Onde há vontade, há Eros, mas também há Tanatos... Um breve momento de triunfo. Muito bem, devemos ter sempre à mão uma alusão clássica adequada, para podermos não a utilizar. Todos nós possuimos abismos de sinceridade que ainda não ousamos explorar. Sabe tão bem como eu que não existe nenhum Inferno tão terrível como um Inferno velho...
domingo, março 30, 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário