domingo, outubro 26, 2008

Charlie Zero Zero

Com o tempo aprendemos a conhecermo-nos. E essa presunção leva-nos a pensar que conseguimos controlar as nossas emoções, os nossos sentimentos, as nossas reacções a tudo e mais alguma coisa que se passa à nossa volta. Puro engano. Não controlamos nada. Absolutamente nada. Este fim-de-semana tem sido a prova viva disso mesmo. Cá dentro não mandamos, não decidimos, não controlamos. Limitamo-nos a ser atingidos por vagas após vagas de coisas que julgávamos há muito tempo debaixo do sólido jugo da razão. Não vale a pena, há coisas, pessoas, acontecimentos, sentimentos com que não conseguimos pura e simplesmente lidar, que escapam a qualquer tentativa de razão e crescem enormes, inescapáveis e se tornam parte da nossa carne. Até perdermos o equilíbrio e sermos tomados por uma espécie de náusea paralisante que depressa se torna absoluta. O incauto ainda pensará em convocar a Shirley Bassey de "The Greatest Performance of my Life", mas Dame Shirley não compareceu. Em vez dela, uma angústia, uma necessidade de fugir, de criar distância, rapidamente. Dentro do peito, um turbilhão de contradições avança descontrolado, sem dó nem piedade e obriga a horas perdidas de estrada, centenas de quilómetros nocturnos para atamancar uma solução que possa dar sentido a todo este desalinho. Apenas uma forma de poder respirar e manter a sanidade mental. E essa solução acaba por ser desistir, bater em retirada, abandonar a arena, afastar. Não quero saber. Não quero saber mais. Não quero saber mais porque temo o que faria se soubesse. Não me parece que fosse bonito o que daí sairia. O importante é pôr as coisas em perspectiva, separar o essencial do acessório. E o essencial é que "blood is thicker than water" e ponto final. Não há discussão. O resto não interessa. Por isso se acaba com o resto. De vez e em absoluto. Não quero saber, não quero ver, não existe. Não é uma solução brilhante mas, de momento, é o melhor que se consegue. Por enquanto. O tempo se encarregará de explicar tudo isto. Eu não consigo. Tonight, i'm a beautiful burnout. Over & out.

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