Copos de cristal da Boémia cheios de champanhe rosa. Caviar em salvas de prata francesas que pertenceram a Luís XVI. O Jaime, a Ana Deus, o João, o Marco, a Ana Francisca, o Dino, a Lúcia, o Ciro. Está uma tarde fabulosa de fim de verão no Alentejo, uma leve brisa faz ondular os panos brancos que cobrem as mesas de ferro forjado inglesas espalhadas pelo pátio traseiro, à volta da piscina, cujo recorte se perde na imensidão da planura alentejana, que se estende até entrar pelo céu dentro. Estão todos maravilhosos. Bem vestidos, bem perfumados, bem fodidos. Tal como deve ser. Sorriem. Muito bem, aprenderam bem a lição. Sabem que o mundo lhes pertence, que é deles para fazerem o que bem lhes aprouver. A minha dádiva. A minha Criação. Não interessa muito, claro, nada disto durará muito tempo. Mas até lá, como poderão gozar e foder esta merda toda. Essa será a minha vingança. A mais doce de todas. Não há pessoas boas e ainda bem. Apenas pessoas que se podem moldar e transformar naquilo que nós queremos que elas sejam. Belas, elegantes, pérfidas, insidiosas. Deus não acabou o seu trabalho. Fi-lo por ele. Mas sendo eu, os acabamentos foram um tanto diferentes do plano original. Nada disto teria acontecido se ele não se tivesse desleixado. E agora...
Em 1985 eu era jovem, bom e acreditava.
Herdade dos Alvares, Alvalade-Sado, em Agosto.
1 comentário:
O Senhor Marquês tem a sílaba enxofrada. Passeia pelo mundo a altivez decadente de uma nobreza sem lugar. E há nisso uma beleza replandescente, que quase cega.
Um grande bem-haja
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