Explicar as coisas por palavras é sempre um grande problema, em especial quando se acredita na unidade dessas mesmas coisas - Penso que sofro de uma condição que poderia descrever como afectação do narcisista que se toma a si próprio por personagem “fitzgeraldiana”. Não almejo a ser mais do que uma voz misteriosa que se quer dar ares de Garbo: em contra-luz, ao fundo do quadro. Todas as encenações são boas desde que nos consigam convencer da sua verdade que, muitas vezes, é a sua própria ilusão. O problema é que, quase sempre, não resistimos a um efeito a mais, um adorno supérfluo, uma melodia graciosa que configura uma respiração etérea, relaxada, mansa, mas tão vaporosa que se torna insuportável no momento seguinte. E, suponho, queremos mais do que apenas algo decente, cheio de ecos e ilusões. Um veludo desbotado e manchado, tão bonito quanto reaccionário, que queremos manter em casa, como um segredo benigno que não se quer contar a ninguém. É, a vida não passa de um cabaret de contornos góticos, uma entidade canibal que se come a si própria com gosto. E nós com ela. Mesmo sofrendo de uma doce desinteria moral…
quinta-feira, julho 28, 2005
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário