Estou pronto para uma profusão de dourado. Talvez por ser Verão, talvez por ter a idade que tenho, talvez por estar de férias. Não sei, mas parece-me adequado que assim seja. E é com alguma antecipação nervosa que espero por ela, pela tal profusão de dourado que me irá salvar de mim próprio, do aborrecimento que paira sobre mim como uma monstruosa nuvem negra, que resiste a partir. Preciso da opulência brilhante, do espírito agudo, da palavra fácil, enfim, de um qualquer reino superior da mente, do corpo, do dinheiro, seja do que for. Encontro-me demasiadamente indolente, demasiadamente disposto a deixar-me ir. Não fico mais feliz por isso. Um amigo meu costuma dizer que o pior de todos os sentimentos é o simulacro. Não podia estar mais certo. Porque o que acontece é isso mesmo, não aspiramos a mais que o simulacro daquilo que queremos sentir. Há já muito tempo que não sinto mais que isso. Chego a pensar que também eu sou apenas um simulacro de mim próprio, já não resta mais que isso, depois de tanto tempo passado a ser como seria suposto ser. O pior é que cheguei a acreditar nessoutro que nunca chegou a existir. O que resta agora? O simulacro do simulacro. Complicado? Reparem: dou por mim por mim a olhar para as outras pessoas como se flutuassem, quais criaturas subaquáticas, numa meia-luz líquida, espectral. E entre elas, lá estou eu. Tomando as palavras de Alan Hollinghurst, em A Linha da Beleza:” (…) sentiu que fora arrastado até à beira de uma qualquer nova promessa, uma perfumada vista ou visão da noite, e que depois aí ficara, perto, muito perto, mas encalhado, preso.” E o pior é que já não há nada a fazer.
sexta-feira, julho 29, 2005
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