quinta-feira, agosto 18, 2005

Bvlgari

É tudo muito simples. Onde há vontade há Eros. Mas também há Tanatos. O Jaime está com os copos, como de costume e cambaleia pela sala, copo de vodka na mão. Olho para ele. Desculpa!? São duas da tarde. A música sobe. William Orbit: Barber's Adagio For Strings. Techno Remix de Ferry Corsten, 1999. Que confusão. Música de feira glorificada. Marina de Vilamoura, 2005. O Jaime vai à varanda e rosna. Merda desta gente mais os seus carros para dar nas vistas. Tenho que sorrir. Pois. O Porsche passa despercebido, é apenas mais um. Vão todos para o caralho. Levanto-me. Lá em baixo, ao sol de Agosto, o carro cinzento repousa entre os seus pares. Estou a ver. Jaguars, um Bentley, três Mercedes, um Aston Martin. É a vida, meu caro. Recebo o olhar mais profundo de desprezo que alguma vez uma criatura de Deus foi capaz de produzir. Não quero saber. A Bvlgari tem um perfume novo chamado Aqva. Comprei-o lá em baixo agora mesmo. Cheira a água, curiosamente. Tal como eu me sinto. Sem cor, sem sabor, sem forma. Mas, no entanto, agradável, inofensivo. E caro. A verdadeira essência da minha existência por estes dias. Não consigo mais do que fazer uma coisa e o seu contrário, imediatamente a seguir. Somos autómatos bem vestidos, bem penteados, bem cheirosos, vazios de tudo o que poderá significar ser. Já não se é, existe-se. Tal como o perfume da Bvlgari. Amen.

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