Tudo bem. Eu digo-te o que penso. A Ana Francisca está vestida de negro, de cabelo apanhado num carrapito displicente. Os olhos são verdes. O sorriso faísca promessas que nunca serão cumpridas. Toca Loneliness de Tomcraft. Não acredito em finais felizes. Nunca ninguém disse que seria isso que iria acontecer. O Jaime está sombrio. O Jaime é sombrio. Tudo aquilo é por causa dele, não que ele tenha feito algo por isso, mas é geralmente o que acontece. Grand Café, Lagos, Agosto de 2005. Já nada pode acontecer, diz alguém. Rir não quer dizer nada. Os olhos verdes fitam os meus. És um merdas. Mas safo-me sempre. Isso não quer dizer grande coisa. Bebe, bebe mais, já sabes como funciona. Um sorriso. Negro como os abismos do inferno. Quero sentir a tua pele, o teu cheiro, o teu toque. Uma arma carregada. O Jaime levanta-se e vai dançar. Parece que está a tocar sempre a mesma canção. Mais uma cabeça loura no meio de tantas cabeças louras. Olhamos. Não mais que isso. Sinto-me tolhido por uma inércia tão grande que se torna quase uma presença física. Sinto cravados em mim os olhos verdes de um mar de distância, do outro lado da mesa. Chega a Ana Deus, de vestido vermelho e com um ar de indisfarçável satisfação, toda dentes e rubores. Digam o que disserem, nem tudo é mau, apenas adiamos o fim, mas que sabe bem, isso sabe. E o resto que se foda. Levanta-se e vai dançar com o Jaime que, como é seu glorioso hábito, nem dá por ela. Mas isso não é importante. Somos jovens, belos, temos o tempo a nossos pés, é isto que somos suposto fazer. Soulwax, NY Excuse, baseado no Funkytown dos Lipps, Inc..Ok. À vossa, minhas coisas lindas. Sei o que vai acontecer a seguir. Afinal, o Porsche está lá fora. O Jaime e a Ana Deus dançam, sem quase darem um pelo outro. Um último trago faz desaparecer o vodka limão. O ardor compensa o resto. Uma arma carregada. Bang! Seria tão mais fácil. Não gosto de perder. Temos pena. Cada um usa as armas que tem. Naturalmente. Dá-me com tudo o que tiveres. Oh la la. Ainda os Soulwax. Gosto muito de ti. Vai-te foder. Luz. Som. Frémito. Roupas caras e bebidas coloridas. We speak english. Naturalmente. Via do Infante, 4h 56m da manhã, um Nokia preto voa pela janela do condutor do Porsche 911 Carrera S cinzento. 189 km/h. Fecho os olhos. Ao meu lado, os olhos verdes vão concentrados, as mãos tensas sobre o volante de couro. Os outros ficam para trás tão depressa quanto insignificante é o facto em si mesmo. Quero gritar mas não o faço. Limito-me a pensar que se o mundo acabasse nesse momento eu era um gajo completamente fodido. Sasha, Xpander. Business as usual. 6 cilindros opostos, 3.8 litros, 355 cavalos às 6600 rpm, 4.6 segundos dos o aos 100 km/h, 293 km/h de velocidade máxima. Nunca se deve tentar Deus.
sábado, agosto 13, 2005
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1 comentário:
Quando a vodca acaba a noite perde o brilho.
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