quinta-feira, agosto 18, 2005

Hold me now

Estou a ouvir um CD antigo, “Accelerator”, dos Future Sound of London, de 1992. Techno em estado puro, como nessa altura era possível e desejado. Sempre gostei muito destes tipos, da música deles, das opções estéticas, das concepções sobre o futuro da música enquanto parte fundamental da vida humana, mas transcendendo-a, indo para além dela. A música como elemento unificador de uma sociedade que, porventura, já não necessitará de nós, seres humanos para ser viável e funcionar. Curiosamente, tudo isto me leva sempre ao sinal contrário. Aconteceu em Oxford, acontece agora. Só consigo pensar em estar a ouvir esta mesma música deitado num barco à vela, a percorrer o Nilo, à sombra figurada dos faraós. Um lânguido e augusto cavalheiro dos anos 30 do século XX, mas sendo esse tempo o nosso tempo agora. E com a música, esta música, a tocar em banda sonora celestial. Lá está o tempo sem tempo. Nem Derek Jarman faria melhor. A inércia primordial do novo século, adornada pelas visões de futuro do século anterior, em cenário retro-histórico, versão BBC. O sortilégio do Antigo, em contraponto com uma modernidade desconfortável. Será possível desejar as duas coisas ao mesmo tempo? Suponho que num filme seria tomada em jeito de ficção científica, com algo de potencialmente intelectualizado em registo sofisticado. Mas não importa, o que tem que existir é a música, os Future Sound of London, sob o sol do deserto, a celebrar um mundo sem humanidade, num local que é, ele mesmo, uma celebração dos feitos dessa humanidade. Porque é que ando sempre à volta com este tipo de contradições?

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