quinta-feira, abril 14, 2005

A cidade enquanto espinha do demónio

Estamos os dois estiraçados em frente à grande janela envidraçada, no topo deste Pillip Johnson tão feio como todos os outros. Mais um dia.
Estamos no meio de uma demora que é uma perda de tempo tão grande que é quase uma obra de arte.
Olhamos para a cidade lá em baixo e sonhamos com esquemas para lhes rebentar as pequenas cabeças.
É difícil, sabem, deixar este mundo, desistir de tudo, quando sabemos que até somos iguais a toda a gente.
Mas o importante é perseverar.
Por toda a majestade de uma paisagem citadina.
Por todos os dolorosos dias das nossas vidas cinzentas.
Por todos os sonhos de betão das nossas mentes desocupadas.
Por toda a alegria que passa pelos nossos olhos nublados.
E pelo frio inverno que sangra nos pilares desta Babilónia pintada de fresco.
Somos rapazes de pedra a observar esta terra que se arrasta aos nossos pés.
Os anéis de carne a as torres de aço. As garras do constrangimento.
As grutas fumegantes e os rochedos e a areia sem fim.
É tudo tão difícil, percebem?

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