Quem pensam os Pragas que são?
Quem se julgam eles?
Os Pragas amam o teatro e os Pragas têm ritmo e os Pragas blá, blá, blá... Com certeza.
Os Pragas não facilitam.
Os Pragas vão arranjar muitos ódios de estimação.
Os Pragas chegaram ao Nacional! Meu Deus, mas isto está tudo louco?
Os Pragas nas catacumbas.
Os Pragas na plataforma a profanar os fatos de tantos avatares do nosso teatro ao som da mais impúdica das canções.
The end of days com figurino nas catacumbas do Nacional.
Porque é que isso faz tanto sentido?
Foi rir e arrepiar e pensar: o que é isto? o que é que eles estão a fazer? nada é sagrado? como se atrevem?
Mas, ao mesmo tempo, veio a resposta, clara e sem nuvens: claro! É isso mesmo! Só podia ter sido assim. Naquele local, naquelas circunstâncias, tinha que ser assim.
E os Pragas têm algo de subterrâneo a correr-lhe nas veias, suponho. Quando se chega onde eles chegaram, só voltar às entranhas da terra, ao centro de tudo, ao coração da cena e todos os disparates adjacentes. Sim, o questionar de tudo, como eles pregam, dá estas coisas, de tanto retirar o que já não interessa, chega-se ao ponto em que tudo volta a ser importante.
Os Pragas questionam o teatro sem piedade, pois só voltando a ele poderiam cumprir essa premissa até ao fim. O teatro já não é nada, porque tudo já foi feito, inventado, criado, implodido. Eles sabem, andam a fazer isso há 10 anos. Por isso, ao minimalismo de "Um Mês no Campo" e à fusão crispada e algo desconfortável de "Sobre a Faca, a Mesa", sucede este glorioso maximalismo criativo. Estamos no Nacional, está tudo lá para ser usado, vamos a isso! Com paixão, com gosto, com a faca na liga, a rosa na boca. O teatro é o nosso mundo, vamos a ele, vamos mostrar o que nos dá e o que fazemos com isso.
Estive lá, gostei, senti que aquela gente faz o que quer, como quer, com uma coerência que pode parecer ofensiva a muita gente. Eles divertem-se, partem a louça, apanham os cacos e fazem tudo de novo. Atiram-os à nossa cara e nós agradecemos. Temos falta de mais. Queremos mais. E estamos disponíveis para o que aí vier. E é bom ir ao Nacional sentir tudo isto. Afinal, são as pessoas que fazem a tradição e tornam o sagrado naquilo que ele deve ser: o rasto de quem por lá passa. E como provou a Cláudia Jardim, que ainda continua viva, tudo é relativo. It's all good.
Já agora, quem já tiver visto o filme "The Last Of England", do Derek Jarman, veja e pense de novo, a plataforma a descer, a música, os figurinos. Um tempo sem tempo, uma suspensão absoluta, um fim do mundo. Estarei a sonhar?
Por falar em Jarman, que tal Gregg Araki, Roger Avary, algum Greenaway, os "Anjos e Insectos" do Philip Haas e o "Quarto Homem" do Paul Verhoeven?
E Balanescu. Quartet.
Tentei.
quarta-feira, março 23, 2005
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