O senhor marquês anda muito estranho.
O senhor marquês está estranhamente feliz.
O senhor marquês não sabe muito bem o que fazer.
O senhor marquês pensa que o mundo à sua volta lhe quer fazer alguma.
O senhor marquês sorri por tudo e por nada.
O senhor marquês teme que a memória dos seus dias acabe por o soterrar para sempre.
O senhor marquês sente que...
Não há nada de mais triste do que sentirmos a memória das nossas vidas como uma névoa cinzenta que nos prende e não nos permite ir a lado algum.
Tem chovido, tenho ficado em casa, observar os meus domínios, a paisagem, as coisas, as pessoas e o resultado tem sido um grande distanciamento entre mim e o resto do mundo. O senhor marquês à janela, acompanhado pelos seus demónios saltitantes e alegres, a pensar: vejo gente morta, sinto gente morta... sei disso porque também não faço parte do mundo dos vivos. Poderia dizer que sou uma alma penada, mas nem isso me alegra. As coisas acontecem tantas vezes que deixam rapidamente de ter piada. Queria uma vida genérica, disse eu algures, mas já não acredito nisso. Gosto quando chove. Gosto de beber quando chove. Gosto de conduzir quando bebo e chove. Fiz isso há pouco tempo. Estou preso a truques rasteiros para me sentir... quê? Não interessa. Vou passar a ser um fantasma que sopra gelidamente na nuca dos vivos. Um acossado com sentimentos, meia criança, meio animal.
O senhor marquês tem fome.
O senhor marquês conduz a rir dos outros mortais.
O senhor marquês goza com tudo o que possa ser sagrado para os outros.
O senhor marquês quer acabar com a decência e com as coisas boas.
O senhor marquês quer ser como o outro senhor marquês mas sabe que seria tão aborrecido.
O senhor marquês recebe mensagens multimédia às 3 da manhã de almas jovens a fumar charros e acha isso o máximo porque é sinal de uma decadência maravilhosa aos 21 anos.
O senhor marquês gosta de pessoas decadentes.
O senhor marquês quer ser uma pessoa decadente.
O senhor marquês não se quer incomodar com essas coisas...
O senhor marquês quer um mundo só para ele. Este já não serve.
O senhor marquês aborrece-se de estar aborrecido...
Para sempre.
Contra mundum.
Sebastian Flyte tornou-se alcoólico por ter vergonha de ser infeliz.
terça-feira, março 29, 2005
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